Faltou alguém... Marcomede Rangel Nunes (1951 – 2010)
No dia 23/09/2010, nós amapaenses fomos mais uma vez brindados com espetacular fenômeno astronômico do Equinócio de Outono. Nos últimos 10 anos, um entusiasta abraçou o Amapá e o Equinócio com toda sua força e saber, Professor Marcomede Rangel Nunes, renomado físico brasileiro do Observatório Nacional e do Ministério da Ciência e Tecnologia que incansavelmente nos visitava todos os anos nos meses de março ou setembro para transmitir seu conhecimento sobre o fenômeno. Sua preocupação sempre foi para que as pessoas que visitavam o Monumento do Marco Zero do Equador, durante o Equinócio, não fossem lá somente para participar das programações festivas e sim para que também entendessem melhor como acontecia o Equinócio e sua importância para o mundo, para isso Marcomede estava sempre à disposição para realizar palestras, entrevistas e principalmente para atender a todos na hora do fenômeno ou em seus “plantões” no monumento, já que apesar de ter hora certa para acontecer o fenômeno pode ser observado um dia antes e um dia depois do horário previsto. Marcomede, sempre ressaltava a importância para os Amapaenses de nossa Capital ser a única no Brasil a ser cortada pela Linha do Equador e de termos um monumento de tal porte para registrar efetivamente a ocorrência do Equinócio, com a observação da projeção do sol feita através da abertura no alto do obelisco onde sua luz percorre a linha divisória (linha equatorial) demarcada no chão do monumento ou também a visualização da ausência total de sombra sobre o obelisco menor do monumento que acontece ao meio dia, quando o sol que está perfeitamente posicionado na Linha do Equador.
Mas, este ano durante o Equinócio de Outono literalmente não tivemos muita festa (como nos anos anteriores) e nem muito conhecimento como também estávamos acostumados a ter, pois Marcomede não estava lá disponível como sempre, exceto em fotos que por acaso encontramos nas mãos de um solitário fotógrafo, chamado José Pereira Magalhães (veja também na postagem Quase uma pintura...), que fazia fotos de algumas pessoas que estavam presentes no monumento naquele momento e que também estava também vendendo fotos de seus registros dos equinócios passados. Após folhear o álbum de fotos, as que mais nos chamaram atenção foram às diversas fotos (que dariam até uma exposição) onde aparecia o Professor Marcomede Rangel fazendo o que mais gostava que era transmitir seu conhecimento. Fiquei emocionado vendo ali Marcomede, em momentos distintos, explicando e demonstrando na prática para grupos da 3ª idade, crianças de uma escola, vistantes ou turistas como o Equinócio se “apresentava” no Monumento do Marco Zero. Comprei algumas destas fotos para publicar em nosso blog e também para valorizar o trabalho daquele artista, que também nos confidenciou a falta que estava sentindo naquele momento do seu “parceiro” de todos os anos, com quem também privilégio aprender muito sobre o Equinócio.
Fotógrafo José Magalhães (de costas com o colete laranja) registrando os presentes no Monumento do Marco Zero |
Nós do CETA Ecotel, fomos brindados diversas vezes com a presença do Professor Marcomede, seja nas vezes em que ele hospedou-se conosco ou em visitas informais para boas conversas que inevitavelmente se direcionavam para o fenômeno do Equinócio e de como ele está diretamente ligado ao turismo e de quais formas poderíamos fortalecer esta ligação. Muitas vezes estas conversas se transformavam em verdadeiras aulas, como as que ele falava entusiasticamente sobre o seus estudos sobre o Sitio Arqueológico de Calçoene, que Marcomede classificou e divulgou pelos dois hemisférios do mundo como o “Stonehenge brasileiro” ou quando falava do livro que estava escrevendo sobre o Monumento do Marco Zero do Equador e o Equinócio. Em 2009 fomos presenteados pelo professor Marcomede com um projeto de um Relógio de Sol Vertical para ser construído aqui no CETA Ecotel, sobre o qual estávamos discutindo quando e como faríamos a sua implementação, mas infelizmente o professor partiu antes de mais esta realização, a qual que vamos nos esforçar em executá-la da melhor forma possível.
Marcomede nos deixou e esse ano e foi ver o Equinócio de um lugar privilegiado... No céu, bem lá do alto, do lado das estrelas, planetas, cometas e de tudo a que ele se dedicou ao longo da sua vida...
Aqui deixamos nossos Sinceros agradecimentos por todo conhecimento transmitido e gostaríamos de prestar esta singela homenagem, através deste breve registro em nosso blog, a essa pessoa que adotou o Amapá de coração e que com certeza vai fazer falta não só para o seu parceiro fotógrafo ou para seu grande amigo Professor Paulo Gurgel, mas para todos nós aqui do Amapá que nos acostumamos com sua presença e entusiasmo, por isso esperamos sinceramente que a memória de tudo que Marcomede Rangel Nunes fez pelo Amapá não seja esquecida e sim perpetuada para os próximos marços e setembros que virão...
Marcomede Rangel Nunes, físico do Observatório Nacional, membro da Academia Nacional de Letras e Artes - ANLA. Sócio fundador da Sociedade Brasileira da Ciência - SBHC, sócio colaborador da Associação Brasileira de Imprensa - ABI, e o primeiro brasileiro a medir a radiação solar na Antártica (1984). Fez sete viagens ao continente gelado pelo Programa Antártico Brasileiro - Proantar, e a 10 anos trabalhava durante o Equinócio no Amapá.
Texto: Adriano Ferreira Fotos: José Pereira Magalhães / Adriano Ferreira
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